Quando eu vi "Uma História de Solidão" à venda, meu coração perdeu uma batida por mais esse título do meu amado John Boyne. Pra quem ainda não sabe, eu sou fã declaradíssimo do Boyne — inclusive, meu livro favorito é dele!
Resolvi mudar um pouco o core de livros de fantasia e trazer algo talvez um tanto mais “adulto” para o público masculino — embora os livros do escritor sejam tanto para homens quanto para mulheres — e quem sabe te ajudar com o presente de natal.
Confesso que imaginava um tema diferente do que é apresentado nessa narrativa: a história da vida de um padre e que, mesmo que não tenha sido baseada em um fato real, não deixa de ser real. Na verdade, provavelmente foi ou talvez ainda seja vivida por muitos outros padres, afinal todos os livros do John abordam um fato ocorrido, um tempo histórico ou uma referência a eles.
Vamos voltar no tempo, em uma Irlanda consideravelmente regida pela religiosidade — por curiosidade, Boyne é irlandês e esse é o primeiro livro dele que eu leio e que se passa na Irlanda — para acompanhar Odran, um garoto que não teve uma infância fácil, que não pôde curtir uma adolescência ideal e que ingressou na juventude caminhando por estradas que não foram escolhidas por ele. Porém, que ele descobre não ser um caminho tão errôneo assim quando chega na vida adulta...
"Uma História de Solidão", na verdade, apresenta vários momentos de solidão na vida do protagonista. Desde a perda de familiares, até mesmo ao ponto em que ele vive sozinho, dentro de si mesmo. Mas Odran não é de tudo solitário o tempo inteiro, pois logo de início em seus estudos para a vida celibata, ele conhece Tom, seu colega de quarto e melhor amigo pelo resto dos tempos, assim como seus alunos que preenchem suas horas diárias.
O que Odran não esperava é que Tom não fosse quem imaginava ser e, conforme o tempo vai passando, ele vai relevando acontecimentos, ignorando alguns fatos e talvez tentando convencer a si mesmo de que seu amigo não seguiu um rumo tão diferente de vida, não percebendo que sua omissão o fazia tão culpado quanto o malfeitor. Infâncias sendo destruídas, crianças desistindo da vida, famílias irlandesas sendo desestruturadas, a igreja envolvida em escândalos — causando sofrimento quando deveria oferecer a redenção — e padres honestos, que outrora respeitados, agora temidos e desprezados com suas reputações manchadas.
“Uma História de Solidão” é um livro que traz um tema pesado e que tem uma carga de impacto bem grande. Pra quem espera uma leitura rápida ou dinâmica, acredito que este não seja o livro ideal, porque a história anda devagar, parando em muitos momentos, e em cada um deles John nos faz "perder" algum tempo refletindo sobre as coisas da vida, sobre essência, sobre desperdício. É um livro de John Boyne, no estilo de John Boyne. Não cabe a leitores apressados ou impacientes.
Além de ser devagar, embora no tempo ideal da narrativa, a história não segue uma linha de tempo contínua, pois ora estaremos em uma década e ora voltaremos algumas, ou então avançaremos no tempo. Isso realmente deixa muitas perguntas abertas, e fatos sem explicação, até um pouco mais da metade do livro. Mas não se preocupe porque tudo fica muito bem fechado no último quarto da obra.
“Uma História de Solidão” é uma daquelas obras que, quando a gente termina, é impossível evitar de refletir nas palavras finais, que nos leva a pensar o quão nós podemos ser culpados porque somos omissos, porque somos indiferentes, porque somos negligentes, em alguns ou até mesmo em muitos momentos da vida.
Avaliação:
Ficha Técnica
Título: Uma História de Solidão
Autor: John Boyne
Editora: Companhia da Letras
Páginas: 416
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